Daniel
17/02/98
INTRODUÇÃO
Introdução à Literatura Apocalíptica
1.A profecia apocalíptica, sua natureza e características.
A palavra apocalipse aparece pela primeira vez no livro de apocalipse de João com o significado de revelação; uma revelação que envolve as coisas que em breve devem acontecer as quais Cristo estava dando a conhecer a seu servo João. Esta revelação é dada de forma sobrenatural Ap 1:10; 4:2; 17:3; 21:10 tratando dos eventos que aconteceriam na consumação da história humana e do subsequente estabelecimento do reino de Deus. O termo apocalipse tem sido emprestado do livro do NT e aplicado a todo gênero de literatura tanto bíblica como extra-bíblica.
Tipos de apocalipses extra-bíblico:
1-3 Enoque (literatura judaica)
Jubileus (literatura judaica)
4 Esdras (literatura judaica)
Testamento de Abraão (literatura judaica)
O apocalipse de Abrão (literatura judaica)
O termo apocalipse, com referência ao gênero literário, foi primeiro empregado por um indivíduo chamado Friedrich Luckë em 1832; ele fez um estudo sobre o livro do apocalipse de João e referiu-se ao seu conteúdo (do livro) como literatura apocalíptica.
Na Bíblia, além do apocalipse de João, encontramos como literatura apocalíptica os seguintes livros: (1)Daniel, (2)Algumas seções de Isaías 24-27, (3) Ezequiel 40-48, (4)Joel cap. 3, (5)Zacarias cap. 9-14; NT (6)Mateus 24, (7)Marcos 13, (8)Lucas 17 e 21, (9)2 Ts 2.
Impõe-se sobre o livro de Daniel características de apocalipses não-Bíblicos.
A.Definição de um apocalipse: É uma tarefa extremamente difícil definir realmente o genero literáio do gênero apocalíptico apesar do interesse que esse tipo de literatura tem sucitado nas últimas decadas especialmente depois da segunda guerra mundial. Até o presente não existe um consenso sobre o que é o apocalipse. Essa dificuldade ocorre por duas razões:
a)A literatura apocalíptica tem uma grande variedade de formas literárias (visões Dn 7; Sonhos Dn 2; relatos históricos Dn 1,3,4,5; orações parte cap.9; decreto; etc.).
b)Problema do conteúdo teológico: Alguns teólogos consideram como sendo apocalipse somente aquela literatura que faz uma previsão do curso da história através dos tempos e apresenta no final uma transformação cósmica.
Qualquer definição que tentemos de uma literatura apocalíptica ela tem de ser ampla o suficiente para abarcar todas as características desse tipo de literatura.
Uma definição tem de permanecer flexível. A definição mais aceita da literatura apocalíptica é a de Jonh G. Collins (“Introduction: Towards the Morphology of a Genre”. Semeia 14 (1979):9; mas ainda esta é limitada, apresenta-se aqui a sua tradução: Tipo de literatura revelacional dentro do contexto de uma narrativa na qual a revelação é mediada por um ser sobrenatural a um recipiente humano, desvendando uma realidade transcendente a qual é tanto temporal, na medida em que ela trata de uma salvação escatológica, e espacial na medida que ela trata de um outro mundo, sobrenatural.
18/02/98
B.Características da Literatura Apocalíptica Bíblica.
a)A principal característica de um apocalipse é a reivindicação de que ele contém uma revelação vinda da parte de Deus acerca dos eventos futuros e acerca das realidades celestes. A cortina que nos separa do mnudo celestial é aberta, e assim pode-se contemplar as realidades celestes e também o futuro. Ap 1:1; 4:1-11; 5 - 22; Dn 2:27-30; 7:9-28; 8:19, 26; 10:14;12:4.
b)A revelação em um apocalipse é intermediada por meio de um ser celestial, um anjo. Dn 7:16,23; 8:16-18; 9:21-23; 10:10-14; Ap 1:1; 17:7; 19:9-10.
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24/02/98
c)A literatura apocalíptica, geralmente, foi escrita em circunstâncias de crise, desespero e perseguição. Em Daniel o povo de Deus se encontrava exilado e oprimido por Babilônia (Dn 1:1-2). João recebe a sua revelação quando ele estava preso e exilado na ilha de Patmos quando a igreja estava sendo perseguida pelo império Romano Ap 1:9. A noção na literartura apocalíptica é mostrar como as promessas de Deus se cumprirão.
d)Dualismo (não um dualismo grego; corpo e alma)ou chamado contrastes marcantes - É uma característica das obras apocalípticas; assim se fala da marca da besta e em contraste marcante encontra-se o selo de Deus (Ap 7:2 x 13:16); fala dos exércitos do céu e, do outro lado, das forças da terra (Ap 19:11-19); enconttramos também a nova Jerusalém versus a antiga Babilônia (Ap 18; 21:2). Em Dn 2 encontramos pés de ferro e de barro versus pedra (Dn 2:41-45); em Dn 7 temos o chifre com boca e olhos como de homem versus o Filho do homem (Dn 7:8, 13); em Dn 9 temos o ungido messias ligado com o seu povo (povo de Daniel) versus o povo de um príncipe que haveria de vir (Dn 9:26); em Dn 11 e 12 temos o príncipe do norte versus Miguel o vosso Príncipe. Existe o bem e o mal, o presente e o futuro, o que é lá do alto e o que é daqui de baixo; isso é extremamente evidenciado na literatura apocalíptica.
e)A literatura apocalíptica é extremamente simbólica. Enquanto a literatura profética e sapiencial do A.T. fazem uso do simbolismo, mas de modo leve e natural, a literatura apocalíptica faz uso de um simbolismo complexo e elaborado. Ex. na profecia clássica pode-se falar de Babilônia representada por uma águia Ez 17:1-4; outras nações são representadas como boi, leão, leopardo e lobo (Nm 24:8-9 Israel representado como um boi ou como um leão); em Jr 5, 6 temos nações representadas por leopardo e lobo; em Joel cap 2 nações são representadas como gafanhotos. A profecia apocalíptica fala de um leão com asas de águia, fala de um leopardo com 4 cabeças e 4 asas de águia, fala de uma besta com 7 cabeças e 10 chifres com dentes de bronze e garras de ferro (Dn 7 e Ap 13).
f)As visões e os sonhos em um apocalipse revelam não somente as realidades invisíveis do céu e do mundo espiritual mas, sobretudo, os planos de Deus para a história humana cobrindo desde os dias do profeta até o fim dos tempos e o estabelecimento do reino de Deus.
g)Enquanto que a profecia clássica era condicional (Is 1:18-20; Jr 18:7-10; Ez 18), a profecia apocalíptica é incondicional. O apocalipse descreve o que vai acontecer, tal qual vai acontecer independente do poder humano. O poder humano não pode influenciar ou mudar a história descrita no apocalipse. Esta característica descritiva/incondicional do apocalipse é chamada, por alguns especialistas, como “determinismo”, no entanto o melhor nome seria “caráter descritivo do apocalipse”.
Obs: A razão porque a profecia apocalíptica é descritiva ou incondicional - (1) Para nós: Deus é fiel e cumprirá as suas promessas tanto de bênçãos como de juízo. (2) Para vários críticos liberais: International Standard Bible Encyclopedia vol 1, p 153. A razão básica é que os Judeus, após o exílio babilônico, perderam a visão profética da história, perderam de vista a tensão entre: presente - futuro próximo - futuro escatológico.
Obediência - Bênção - Salvação
Desobediência - Maldição - Restauração - Salvação.
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25/02/98
Duas características extras da literatura apocalíptica não-Bíblica.
a)Pseudonímia - Para poder conseguir mais aceitação entre as pessoas os autores dos apocalipses não-bíblicos atribuiram suas obras a figuras importantes da história do povo de Deus; ex: Enoque, Abraão, Moisés, Esdras, etc.
b)Vaticinia ex eventu - As obras dos apocalipses não-bíblicos contém descrições e relatos da história em forma de profecia.
Essênios Judeus Helenistas Fariseus
Criação 3906 aC 4860 aC 3759 aC
Êxodo 978 aC 1703 aC 1311 aC
Const Templo 978 aC 1062 aC 831 aC
Exílio Babil. 560 aC 640 aC 421 aC
(677 aC - pseudo Demetrius)
Volta do Exíl. 490 aC 570 aC 350 aC
Fim 70 semanas 1aC 177 aC 70 dC
2. Escolas de Interpretação Proféticas - A discussão sobre a interpretação das profecias de Daniel e de Apocalipse no meio judeu-cristão deu origem a diferentes escolas de interpretaçãp profética:
A. Escola Historicista - Considera que o profeta recebe revelações divinas acerca do futuro descrevendo aquilo que iria acontecer na história humana, pertinente ao povo de Deus, desde o seu tempo até o tempo do estabelecimento do reino de Deus sobre a terra (Nos enquadramos nessa escola).
Muita literatura apocalíptica e da literatura rabínica apresenta o quarto animal como sendo Roma, o reino que seria destruído pela vinda do Messias. [1] Apoclíptica(IV Esdras 11:45; 12:11,15; Baruque 39:3-8; 1Enoque 91:11-17; 93:1-10). [2] Rabínica (Talmude de Babilônia, Avoda Zarah, 2b).
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10/03/98
Na literatura Cristã temos também o exemplo do historicismo: (1)No NT Mt 24:15; Ap 1:1-3 // Dn 12:9-12; Ap 1:13-15 // Dn 7:13, 10:4-6, 12:7. (2)Na epístola de Barnabé 4:1-5, (3) nos escritos de Hipólito e Jerônimo.
Quando os reformadores voltaram à Bíblia e viram que a igreja não mais usava o princípio historicista de interpretação da Bíblia, uma das coisas que fizeram foi reestabelecer esse método. Lutero, Melancton, Oecolampade fizeram uso do método historicista, para eles as profecias de Daniel faziam referência desde os dias de Daniel até o final da história. No protestantismo do século XVIII Isaac Newton dedicou mais tempo a escrever sobre as profecias bíblicas do que a escrever sobre física.
No século XIX no protestantismo temos como historicistas: (1)Hergstemberg, (2)Keil e (3) Aeirberlem. No século XX temos poucos nomes que continuam a usar o método historicista: (1) Baldwin, (2)Barnes, (3)Elliott, e (4)os Adventistas.
B. Escola Preterista - Considera que as profecias ou são um vaticinium ex eventu ou se realizaram todas no passado, na história antiga de Israel não tendo nada a ver com o presente muito menos com o futuro.
a) A idéia de que Daniel era um vaticinium ex eventu foi primeiro proposta por Porfírio (233 - 304 dC) tentando, portanto, quebrar a força que as profecias de Daniel tinha para a fé judeu e cristã. Ele falou isso e caiu no esquecimento até o dia em que Hugo Broughton (1549-1612 dC) leu a idéia de Porfírio e acatou-a tendo-o como um homem iluminado; ele então escreve um tratado defendendo a idéia de Porfírio. Após Hugo, essa idéia tornou-se mais popular com o trabalho de Uriel Acosta (sec. XVII) que escreveu um livro atacando as profecias de Daniel atacando tanto judeus como cristãos. Nesse período havia uma luta entre esses autores e outros, inclusive cientistas, que procuravam provar a existência de Deus. A idéia desses liberais dominou o meio acadêmico do século XIX.
b) Considera que as profecias de Daniel se referem apenas ao passado e não tem nada a ver com o presente ou futuro.
1. A idéia de que a profecia de Daniel se limitava somente a eventos do passado e não do presente ou do futuro foi mantida na igreja cristã antiga por alguns teólogos sírios tais como: (1)Jacó de Nisis; (2)Efraim Sírio; (3)Policrônio; estes eram do século V ao VII dC. Geralmente eles viam as profecias de Daniel se cumprindo no período dos selêucidas, especialmentecom o famoso Antíoco Epifânio.
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17/03/98
Cont.
Essas idéias persistiram até a época da contra-reforma; quando então os jesuítas, tentando fazer face aos ataques dos reformadores contra o papado, o jesuíta Luís de Alcazar em 1614 dC ressucitou a interpretação preterista das profecias bíblicas sustentando que toda profecia termina com a queda da nação judaica e a derrota e destruição de Roma pagã. Para ele o anti-Cristo foi algum imperador romano como Nero, Domiciano ou Diocleciano. Os 1260 dias representavam o tempo que durou a perseguição dos primeiros cristãos pelos judeus; esse argumento preterista avançado pela contra-reforma preparou o caminho para a aceitaçãodo primeiro ponto de vista preterista do “vaticinium ex eventu” especialmente no meio católico.
C. Escola Futurista - Considera que as profecias apocalípticas se referem em parte ao passado (Israel antiga, igreja cristã primitiva, e Roma pagã) e em parte ao futuro distante (à vinda do anti-Cristo e o fim do mundo). Esta escola aparece dentro do movimento da contra-reforma, o primeiro a propor esse tipo de interpretação foi o jesuíta Francisco Ribera em 1590. Ele se apoiou sobre as idéias do escolasticismo católico (Tomás de Aquino) de que o anti-Cristo seria um tirano judeu que apareceria no futuro e reinaria por 3 anos e meio literais. Ribera foi seguido por Bellarmin que mantinha que o anti-Cristo ainda não tinha se manifestado baseando sua evidência em Dn 12:11 (o sacrifício é o sacrifício da missa). O número 666 do apocalipse se referia a Lutero. Outros jesuítas que apoiava a idéia de Bellarmin eram Viegas e Lapide.
No século XIX o futurismo fez adeptos no meio protestante. S. R. Maitland, J. H. Todd, e J. Darby(pai do dispensacionalismo) então a interpretação futurista tornou-se parte da compreensão apocalíptica atual de uma boa parte do cristianismo fundamentalista moderno. Estes são comentaristas de Daniel fundamentalistas modernos: (1)E. J. Young, (2)E. Sauer, (3)H. C. Leupold, (4) J. F. Walvoord.
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18/03/98
D. Escola Alegórica ou Espiritualista - Considera que as profecias apocalípticas são símbolos alegóricos, espirituais nas realidades da vida cristã e da vida da igreja. Sob a influência de Orígenes (185 - 254 dC.), teólogo de Alexandria, as profecias começaram a ser alegorizadas e espiritualizadas; por exemplo as 7 cabeças da besta de Ap 13 representam os 7 pecados capitais; os 10 chifres da besta de Dn 7 e de Ap 13 são 10 antíteses aos 10 mandamentos; a mulher de Apocalipse representa a igreja que dá a luz àqueles que são nascidos do espírito. Essas idéias recebem o apoio e ajuda no desenvolvimento de Eusébio de Pamphili (Mais ou menos 260 - 340 dC) era bispo de Cesaréia e era historiador da igreja, seguindo a interpretação alegórica ele identificou a pedra de Dn 2 que cresceu e tornou-se uma montanha que encheu toda a terra com a conversão de Constantino e seu consequente reconhecimento, proteção e enriquecimento mateial da igreja cristã. Agostinho (354 - 430 dC), bispo de Hipo, seguindo a mesma linha de pensamento identificou o reino de Deus de Dn 2 com a igreja católica que estava destinada a tornar-se uma montanha que encheria toda a terra, domínio universal. A volta de Jesus é sua vinda initerrupta (“particulatimatique paulatim”) aos seus à vida dos fiéis. A primeira ressureição de que fala a Bíblia é a ressureição espiritual, almas mortais se levantando para a vida espiritual; o Diabo já estava preso e a raça humana já se achava no período dos mil anos no reino de Cristo e de sua igreja. A única coisa que ainda estava no futuro era a aparição do anti-Cristo e a consequente segunda vinda de Cristo para destruir o anti-Cristo. Essa interpretação tornou-se a crença dominante da idade média e até hoje é a base da vida e autocompreensão da igreja católica.
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24/03/98
O LIVRO DE DANIEL
1. Autoria
Temos 3 posições para a autoria do livro de Daniel:
1. O autor é o próprio Daniel. Esta é a posição tradicional tanto judaísmo como do cristianismo. O autor teria sido Daniel, personagem de origem judaica que viveu no VI século aC em Babilônia como um exilado mas que trabalhou e viveu como homem de estado/político e também como um profeta. Até o final do sec. XVIII poucos duvidavam que Daniel fosse o autor da totalidade do livro que leva o seu nome. Temos evidências internas de que ele escreveu Dn 7:1; 12:4, 9. Temos algo que foi escrito por outros e que Daniel incorporou ao seu livro Dn 4. Dentre uns poucos que não criam que todo o livro vinha de Daniel temos: (1)Benedito (Baruch) Espinoza (1632 - 1677) que era um filósofo judeu/polonês; (2)Isaac Newton (1642 - 1727). Ambos criam que Daniel 7-12 fora escrito por Daniel, mas Daniel 1-6 não se tem a mínima idéia de quem o compôs.
2. O autor seria um judeu anônimo qualquer da época dos macabeus que escreveu todo o livro de Daniel inventando tudo que está escrito. Com a aceitação da interpretação preterista e a divulgação da idéia de que Daniel era um “vaticinium ex eventu” no meio acadêmico, muitos especialistas e teólogos passaram a crer que o autor do livro de Daniel teria sido um judeu nacionalista que escreveu uma ficção histórica (livro de Daniel) na época da perseguição religiosa de Antíoco Epifânio (165 aC.) afim de estimular o movimento de resistência contra o tirano selêucida. Esse ponto de vista tomou conta do meio acadêmico no sec. XIX mas começou a perder aderentes desde o início do sec. XX. O último a defender esse ponto de vista foi Harold H. Rowley que no seu discurso presidencial dirigida a sociedade para o estudo do AT em 1950 defendeu ardorosamente esse ponto de vista.
3. O livro de Daniel teve mais de um autor. Adotado pela maioria dos autores contemporâneos. Desde o fim do sec. XVIII e durante o sec. XIX apareceu a idéia de que o livro de Daniel teria mais de um autor. Os primeiros a propor essa idéia dentro do racionalismo foram Eichorn, Meinhold, Berthold; para eles parte do livro de Daniel que estava em aramaico mas especialmente Dn 2-6 se originaram no início do III sec aC. enquanto os demais capítulos, inclusive o cap. 7, eram da época dos macabeus (II sec. 167 - 165 aC).
No sec. XX temos C. C. Torney (1909) que acreditava que Dn 1-6 era do III sec. e Dn 7 - 12 época dos macabeus.
Montgorrey escreveu um livro chamado Daniel, ICC (International Critical Commentary) dizia que Dn 1 -6 era do III sec, Dn 7 era uma composição independente possivelmente do período entre o III sec e a época dos macabeus, e Dn 8 - 12 da época dos macabeus.
Martin Noth (1926) escreve todo um ensaio sobre a composição do livro de Daniel e propôs a seguinte idéia: As partes originais de Dn 2 e 7 é da época de Alexandre o Grande (356 - 323 aC), as “lendas”de Dn 1 - 6 foram escritas durante o III sec., as visões dos 4 reinos em Dn 2 e 7 foram incluídas posteriormente, e o restante Dn 8 - 12 é da época dos macabeus.
Nas últimas décadas um crescente número de especialistas têm proposto inúmeras teorias de uma complexa história de composição para o livro de Daniel com vários autores; alguns deles mantendo, mesmo, que alguma coisa do livro poderia ter sido escrito no VI sec. aC depois várias sessões foram escritas pelos séculos que decorreram até que tudo foi concluído na metade do II sec. aC, na época de Antíoco Epifânio.
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25/03/98
2. Data
A datação do livro de Daniel depende do ponto de vista de sua autoria. Temos três teorias quanto a datação:
1. O livro foi escrito no VI sec. aC.
É o ponto de vista tradicional judeu-cristão. Esta posição está baseada nas várias referências cronológicas do próprio livro.
-No cap 1 de Daniel diz que Daniel foi capturado e levado p/ Babilônia no terceiro ano do rei Jeoaquim que é o ano 605 aC. Depois é dito que ele permaneceu até o primeiro ano de Ciro 539 aC Dn 1:21.
-No capítulo 2:1 nos fala do segundo ano de Nabucodonozor 603 aC.
-Daniel 7:1 nos fala do primeiro ano de Belsazar 551/550 aC.
-Daniel 8:1 fala do terceiro ano de Belsazar 551/550 ou 548/547 aC.
-Em Daniel nos cap. 6:28; 9:1 e 11:1 nos fala do reinado de Dario o Medo 539/538 aC.
-Em Daniel 10:1 fala do terceiro ano de Ciro 536 aC.
Segundo a datação interna temos o período de 605 a 536 aC; isso dá por volta de 70 anos.
A data do sexto sec. para o livro de Daniel é reforçada pelo fato do livro conter informações históricas deste período da história de Babilônia e do império Medo-Persa que só poderiam ter sido conhecidas por alguém que viveu nessa época.
2. O livro foi escrito no II sec. aC.
Os defensores desta data enfatizam as evidências internas do próprio livro que indicavam o período dos macabeus.
-Primeira grande evidência é o fato de não existir profecia preditiva. Se Daniel descreve um período tão exato é porque só poderia ter escrito depois que tudo tinha ocorrido.
-A evidência/empírica básica é apoiada por vários erros históricos que indica que o livro foi escrito muito tempo depois dos fatos. Em linhas gerais o livro está certo; mas nos específicos históricos ele comete vários erros visto ele ter vivido muito tempo depois dos fatos terem ocorridos.
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31/03/98
Cont.
Erros:
a) Datação de Daniel 1:1 X Jr 25:1 ( No entanto, esses dois textos se confirmam).
b) Belsazar, rei? Dn 5:1, 30; 7:1. Era considerada a maior evidência de que o autor de Daniel era o maior ignorante da história antiga porque na história antiga do AOM e também descobertas arqueológicas que traziam listagem dos reis de Babilônia não aparecia qualquer menção ao rei Belsazar como rei de Babilônia. O último rei de Babilônia foi Nabonido, segundo a esses historiadores e essas listas.
Até recentes descobertas (tablete chamado oração de nabonidus), na qual Nabonido diz que ele deixou a capital Babilônia e entregou a realeza a seu filho Belsazar e se retirou para uma cidade chamada Temã na região da Arábia.
c) Nabucodonosor, construtor de Babilônia? Em Dn 4:30 Nabucodonosor diz “não é esta a Babilônia que eu construi . . .” O livro de daniel clama que Nabucodosor foi o construtor da nova Babilônia. O problema é que os historiadores gregos apresentavam Nabucodonosor como um personagem insignificante na história antiga e eles relatavam que a rainha Semirâmis foi a construtora da nova Babilônia e ela foi a figura de maior porte do ressurgimento desse império.
As descobertas arqueológicas dos últimos 150 anos, no entanto, trouxeram à luz numerosas inscrições babilônicas indicando que Nabucodonosor foi, em certo sentido, o criador da nova Babilônia pela reedificação de palácios, templos, da torre do templo da cidade, por novas construções, fortificações, etc. Quanto a Semirâmis(nome grego) chamada por Sammu-Ramat (nome nas escritas cuneiformes) era rainha da Assíria (Nínive) e não da Babilônia; era a mãe de Adad-Nirari III, e viveu alguns séculos antes do ressurgimento do império neo-babilônico.
d) O uso do termo “caldeu” para uma classe profissional em Daniel 2.
Os críticos dizem que o autor de Daniel comete um grande erro ao usar o termo caldeu para uma classe profissional quando esse termo na verdade se refere a um grupo étnico, ao povo que vivia no sul da mesopotâmia.
O uso de Caldeu no sentido étnico também aparece em Daniel (Dn 5:30; 9:1). Nesse sentido étnico “caldeu” é usado também no resto do AT e por historiadores antigos até o tempo do geógrafo grego Estrabo (63 aC - 24 dC); no entanto, o historiador grego Heródotus (484 - 425 aC) utiliza o termo “caldeu”para designar também os sacerdotes de Bel indicando, assim, que o termo poderia também ser utilizado em referência a um grupo particular, a um grupo profissional e não somente no sentido étnico.
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01/04/98
Cont.
e) Dario, o medo.
O problema é identificar esse Dario. O único livro que traz testemunho sobre um Dario que reinou sobre a Babilônia é o livro de Daniel. Contudo, este pode ser um problema semelhante ao problema do rei Belsazar.
f) O aramaico de Daniel.
Do início do capítulo 2 (Dn 2:4) até o final do capítulo 7 o texto está em aramaico. Até muito recentemente os especialistas afirmaram que o aramaico de Daniel era idêntico ao aramaico dos targuns que datam, na maior parte, do primeiro século dC. Era também parecido com o dialeto Nabateano que data de 170 aC - 300 dC. E também parecido com outro dialeto aramaico chamado Palmireano que data de 33 aC - 294 dC. Portanto o livro de Daniel deve ser desse mesmo período.
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07/04/98
Cont.
As descobertas recentes mudaram essa posição. A descoberta dos papiros de Elefantina (comunidade judia no Egito) com o aramaico do sexto ao quinto século aC demonstra que o aramaico de Daniel é muito mais próximo do aramaico desse papiro do que do aramaico dos targuns e dos dois dialetos Nabateano e Palmireano. Hoje em dia temos toda uma redatação das diferentes fases da língua aramaica. A cronologia mais aceita das línguas aramaicas atualmente é:
A datação das fases da língua aramaica.
1. Aramaico antigo - Mais ou menos 1.000 - 700 aC.
2. Aramaico imperial/oficial - 700 - 300/200 aC.
3. Aramaico mediano - 300/200 aC - 200 dC.
4. Aramaico tardio - 200 - 700 dC.
5. Aramaico moderno - a partir de 700 dC.
O estudo do papiro de Elefantina versus Daniel trazem a luz ainda outros elementos (esse estudo foi realizado por E. Y. Kutscher e Klaus Koch). A diferença que existe entre Daniel e o papiro de Elefantina mostra que Daniel é um aramaico oriental enquanto que o de Elefantina é um aramaico ocidental.
g) Os termos persas e gregos que aparecem no livro de Daniel.
Se existe esses termos, isso só poderia ter acontecido se o livro foi escrito quando os persas ou os gregos estavam no poder. Existe 15 a 20 palavras que seriam de origem persa e 3 palavras de origem grega. Todos os termos persas de Daniel são termos ligados com funções administrativas. Quanto os três termos gregos Dn 3 (kitaris, psalteriom, symfonia); se eles aparecem é porque esse foi um período em que os gregos já estavam dominando, senão Daniel usaria termos aramaicos para eles. No entanto descobertas arqueológicas recentes têm mostrado que artistas gregos estiveram trabalhando na reconstrução de Babilônia. Há referências claras a carpinterios e artesãos gregos. Isso demonstra que havia intercâmbio entre os povos antigos e, portanto, esses termos poderiam com naturalidade aparecer. Se Daniel viveu no período dos macabeus, porque só existem três palavras em grego em todo o livro?
Devido a esses supostos problemas históricos não serem realmente problemas; é por isso que existe uma outra teoria.
3. O livro de Daniel tem vários autores; e esses autores vão desde o sexto século até o segundo.
ESTUDO DO TEXTO DE DANIEL
Bibliografia sobre estrutura:
John J. Collins, Daniel, FOTL (1984 ) pp 31-33
J. Doukhan, The Vision of The End: Daniel, (1987) pp 2-7
J. Doukhan , Le Soupin de la Terre, (1993) pp 15-16
Willian H. Shea, “Unity of Daniel”, em Symposium on Daniel, editado por F.B. Holbrook (1986) pp 248-251.
O livro de Daniel naturalmente se divide em duas partes: (1)Dn 1 - 6 histórico; (2)Dn 7 -12 profética. Estudos mais detalhados, no entanto, indicam uma estrutura mais elaborada em forma quiástica. A seguir ela será apresentada:
ESTRUTURA DO LIVRO
X. Dn 1: Introdução geral ao livro:
1:1 - Início - exílio
1:21 - Fim - tempo de Ciro = tempo da restauração
A. Dn 2 - História da humanidade: Sonho de Nabucodonosor
B. Dn 3 - Perseguição aos fiéis: 3 amigos de Daniel face à fornalha de fogo
C. Dn 4 - Juízo de Deus sobre Nabucodonosor:
C1. Dn 5 - Juízo de Deus sobre Belsazar.
B1. Dn 6 - Perseguição dos fiéis: Daniel face à cova dos leões
A1. Dn 7 - História do mundo: Visão dos 4 animais em Daniel
a. Atividade do chifre pequeno. Vs 8, 11, 20-25
(tempo tempos metade de um tempo)
b. Juízo. Vs 9-12, 26
c. Filho do homem. Vs 13-14, 27
B2. Dn 8 - Visão do conflito e do juízo:
a. Conflito Pérsia - Grécia. Vs 1-8
b. Roma implícita. Vs 9
c. O poder usurpador. Vs 10-13, 23-25
d. O tempo do fim. Vs 14, 26
e. O advento. V 25b
C2. Dn 9 - Jejum, oração e resposta divina:
a. Daniel compreende uma mensagem revelada. V 1
b. Oração intercessória/arrependimento/jejum. Vs 2-17
c. Revelação divina em resposta à oração. Vs 20-27. especialmente v 23.
C3. Dn 10 - Jejum, oração e resposta divina:
a. Daniel compreende uma mensagem revelada. V 1
b. Oração intercessória/jejum/arrependimento. Vs 2-3
c. Revelação divina em resposta à oração. Vs 4-21. especialmente v 12.
B3. Dn 11 - Visão do conflito e do juízo:
a. Conflito entre a Pérsia e a Grécia. V 1-4a
b. Roma implícita. V 4b
c. O poder usurpador. Vs 5-39
d. Descrição do tempo do fim. Vs 40-45a
e. O advento. Vs 45b
A2. Dn 12 - O fim da história humana:
(Estrutura C B A )
c. Miguel. Vs 1a
b. Juízo. Vs 1b-3
a. Atividade da ponta pequena. Vs 4-13
3 tempos e meio, 1290 dias e 1335 dias.
CAPÍTULOS 1, 3, 4, 5, 6 - O tema desses capítulos é a soberania de Deus sobre a história humana e sobre o destino de seu povo.
Daniel é colocado dentro do conflito entre Babilônia e Deus.
Dn 1:1-2 - Rei de Babilônia é rei de Babel, terra de Sinear Gn 11:2.
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14/04/98
Dn 1:2 - Se Babilônia tem poder é porque o Senhor permite que ela tenha.
Dn 1:9 - Deus concedeu misericórdia. (A Sua mão está ali).
Dn 1:17 - Deus é quem faz as dádivas.
Dn 1:21 - A prova de que Deus continua na direção da história. Ciro é o símbolo do redentor. Deus já predissera a respeito dele Is 45:1-7.
Dn 3:28 - O nome de Deus vindicado
Dn 4:17 - O nome de Deus vindicado
Dn 5:25 - O nome de Deus vindicado
Dn 6:26 - O nome de Deus vindicado
Se Israel não proclamou a glória de Deus diante de todas as nações, os reis pagãos o fizeram.
Curiosidades
A escolha de alimentos por Daniel e seus companheiros
Dn 1:12 - Legumes a comer e água a beber. Antes de ser uma questão de saúde é uma questão religiosa Dn 1:8. O alimento foi usado pelo rei como símbolo de fidelidade para com o rei e à sua nova religião (de Daniel). A comida era um instrumento e adoração ao rei e a seus deuses, além de serem insalubres. O problema do cap. 1 é o mesmo do cap 3 e 6, a questão da submissão às ordens do rei. O alimento é uma questão de relacionamento para com Deus.
Dn 10:2-3 - Parece indicar que, alguma vez, Daniel comeu carne.
A comida e a bebida tem que ser em termos de relacionamento com Deus.
Cultura e linguagem dos caldeus
Dn 1:4 - “Sefer” (cultura, livro, literatura); “Lashon” (língua). Na época de Daniel existia as seguintes línguas que poderiam ser as estudadas por ele e seus companheiros: Sumério(não semita; nível religioso), Acadiano (semita; nível histórico/religioso), Aramaico (surgiu na Síria; era a língua política e econômica).
Quanto à literatura as possiblidades seriam: Ciência, religião, política, cultura.
Daniel se tornou um sábio e chefe dos magos. Teria sido Daniel treinado nos rituais mágicos e religiosos da cultura caldaica? Quando notamos bem a ênfase dada sobre Daniel, vemos que ele participou, sobretudo, no contexto político do reinado Dn 1:20-21// Dn 2:48-49.
Religião era algo reservado somente aos nativos do país; e nem todos dos nativos têm acesso a ela; isso é o comum do AOM. Por isso Daniel não estava entre os magos(propriamente ditos) no reino da Babilônia. Ele não é chamado junto com os magos em Dn 2, possivelmente, por essa raz (Posição do Prof. Siqueira)
Onde estava Daniel no capítulo 3?
Daniel foi o homem chave em Daniel 2. É provável que Nabucodonosor tenha afastado a ele para poder desenvolver o seu plano idólatra.
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15/04/98
Observar que no capítulo 3 a adoração da estátua é “forçada” por Nabucodonosor. Após a salvação dos jovens da fornalha, Nabucodonosor reconhece a Deus como aquele que devia ser adorado; mas, ainda assim, se acha no controle da situação forçando a todos a adorarem a Deus.
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22/04/98
CAPÍTULO 2 DE DANIEL
Estrutura do Capítulo
A. Nabucodonosor: Sonho (vs 1-13)
- 3 diálogos (Nabucodonosor - Caldeus) - vs 2-11
- 1 decreto do rei: Morte a todos os sábios - vs12-13
B. Daniel: Oração por um Segredo - Revelação e visão (vs14-23)
- 3 diálogos (pergunta [Daniel a Arioque]; pedido [Daniel ao rei]; oração [Daniel a Deus]) - vs 15-18
- Revelação a Daniel - vs 19
- Louvor a Deus - vs 20-23 (ênfase aqui é: “Deus soberano do universo, do mundo e da história humana”)
B1 - Daniel: Explicação do sonho (vs24-45)
- 3 diálogos (Daniel a Arioque; Arioque ao rei; Daniel e o rei) - vs 24-45. [aparecem as seguintes ênfases:]
- Exaltação de Deus - Soberano do universo, do mundo e da história humana vs 27-28 (// vs 20-22)
- Exposição do sonho - vs 29-36
1. “Tu estavas olhando...” - Estátua (vs 31)
2. “Tu estavas olhando...” - Pedra (vs 34)
- Explicação do sonho - vs 37-45
1. “O Deus do céu te deu o reino...” - Explicando a Estátua (vs 37)
2. “O Deus do céu suscitará um reino...” - Explicando a Pedra/montanha (vs 44)
A1 - Nabucodonosor: Reação (vs 46-49)
- Reverência a Daniel: atos de culto (prostrar-se, oferecer manjares e aromas suaves) vs 46 contraste com vs30.
- Certo reconhecimento da soberania de Deus - vs 47
- Engrandece a Daniel ( em vez de engrandecer a Deus) vs 48-49.
Estudo do Texto de Daniel 2
A estrutura desse capítulo deixa claro a sua ênfase que é a soberania de Deus.
A data de Daniel 2:1 - Bibliografia básica: Maxwell 48-50; SDABC verbete sobre Dn 1:18; e EGW PR 491.
Como Daniel e seus companheiros puderam estudar 3 anos, ser examinados pelo rei, carregados de postos oficiais e depois, em Dn 2 Daniel, vem decifrar o sonho do rei no segundo ano de Nabucodonosor?
Possíveis soluções
1. O capítulo 2 de Daniel é cronologicamente anterior a Dn 1:18-21 e serve como ilustração a Dn 1:17.
2. Se Daniel já tinha recebido sabedoria para interpretar sonhos e visões no cap 1 e o cap. 2 vem em sequencia cronológica, por que ele precisa orar a Deus pedindo sabedoria para interpretar o sonho do rei, e como, no cap. 1 ele é posto como chefe dos sábios?
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28/04/98
Em Profetas e Reis p. 491 é dito que “ele tinha terminado os estudos, feito os exames...”
Em Dn 1:2, 18 (3 anos)em comparação com Daniel 2:1 (2 anos), é um exemplo de contagem inclusiva. Os 3 anos de Daniel 5:18 terminam no segundo ano de Nabucodonosor (ano de ascenção, primeiro ano, segundo ano).
Nabucodonosor recebeu a notícia da morte de seu pai em agosto do ano 605.
Exemplo de contagem inclusiva: 1Rs 18:9-10 (quarto ano, sexto ano de Ezequias), no entanto o verso 10 fala do terceiro ano do cerco.
Outro exemplo é encontrado em Atos 10 (Pedro e Cornélio). Também aparece exemplo em Mt 12:40.
Daniel 2:1 - “No segundo ano do reinado de Nabucodonosor , teve este uns sonhos...” (no original halamot = sonhos) o plural aqui pode indicar que o rei sonhou o mesmo sonho várias vezes. Em 2:3, 4, 6, 7 fala do sonho no singular, só no primeiro verso aparece “sonhos” . Particularmente, Em Babilônia os sonhos eram considerados como uma mensagem dos deuses; encontramos na literatura babilônica livros com compilações inteiras de sonhos, esses livros eram chamados livros dos sonhos. Os reis, as vezes, iam dormir nos templos afim de receber alguma revelação do seu deus. Esse contexto aumenta o seu impacto sobre Nabucodonosor.
Sabia Nabucodonosor do seu sonho ou não? Há 2 interpretações possíveis:
1. O rei esqueceu-se completamente do sonho - Os que entendem dessa maneira dizem que o rei ficou impressionado com o sonho mas não conseguia lembrar-se de nada. Os dois versos básicos para essa interpretação são Dn 2:3, 5 ( no hebraico está “a coisa” [Mileta] saiu de mim). No AOM ter um sonho e esquecer-se do mesmo era considerado um terrível agouro dos deuses. “Se um homem não se lembra do sonho que tinha tido era um sinal de que os deuses estavam em cólera com ele”.
2. O rei não se esqueceu, mas queria provar os seus magos e sábios - Dn 2:9 a prova de Nabucodonosor. EGW PR 491 O rei se esqueceu dos detalhes do sonho mas tinha uma idéia geral do sonho. Essa segunda possibilidade parece ser uma leitura mais fiel.
O Centro Teológico do Capítulo - é a idéia da soberania de Deus, do Deus de Israel. Dn 2:19-22, 27-30, 37-38, 44-45.
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Falta uma aula que está no caderno
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05/05/98
De todos os reinos que aparece no livro de Daniel o menor deles é a Babilônia, no entanto, ela é a cabeça de ouro. Babilônia é representada pelo ouro, isso representando a abundância da sua riqueza e glória.
Cada metal usado na estátua é um metal que está intimamente relacionado com os aspectos marcantes da história de cada um desses impérios. Babilônia passou p/ a história como o reino onde o ouro era abundante como outro qualquer metal.
Heródoto (cerca de 482 - 420/430 aC) visitou Babilônia cerca de um século depois de sua queda e descreve a cidade de maneira extasiada pela quantidade de ouro nela encontrado (Heródoto I, 181, 183; III, 1-7).
Na Bíblia, Jr 51:7 o profeta compara Babilônia com um copo de ouro.
Dn 2:32 - Peito e Braços de prata - Interpretação no v 39.
Data do império Medo-Pérsia - 539 aC - 331 aC. - Quando Alexandre o grande venceu Dario III na batalha de Arbela (fim do império Medo-Pérsia)
“Um império inferior ao teu”. Não inferior em tempo, não inferior no aspecto de extensão territorial; então, onde se encontra a inferioridade? Ela é notada em termos cultural e de civilização. Eles adotaram a língua, a cultura, a literatura da Babilônia. O império Medo-Persa ostentava menos riqueza que o Babilônico, apesar de ser financeiramente mais rico que o Babilônico. O império Medo-Persa foi dividido em 20 satrapias governadas por 120 sátrapas e todas estas satrapias pagavam o seu imposto em prata menos a satrapia mais rica (A Índia) que pagava o seu imposto em ouro, mas mesmo assim a quantidade de ouro que deveria ser paga era calculada pela quantidade que deveria ser pago em prata (pois a prata era a base do sistema monetário desse império). Se o ouro era o metal que caracterizava a Babilônia, a prata era representação do império Medo-Persa.
Dn 2:32 Ventre e quadris de Bronze - Interpretação v 39. O terceiro reino terá domínio sobre toda a terra.
Data - De 331 - 168 aC. Alexandre o grande conseguiu unir a Grécia e conquistou o império Medo-Persa. Seu império durou até 168, quando os romanos derrotaram os macedônios e anexaram a Macedônia e penísula grega ao império que estava emergindo (Roma). O império grego é simbolizado, na profecia, pelo bronze. Os dois primeiros reinos são representados por metais que simbolizam glória e poder e os dois últimos por metais que simbolizam o poderio militar.
Ouro e prata 37 - 39a - Noção de poder e glória/riqueza.
Bronze v 39b - 40 - ênfase é no domínio (poder militar).
É interessante notar que o bronze era o metal mais importante para a Grécia, sobretudo na noção militar; os soldados gregos eram conhecidos como os homens de bronze pelo fato de usarem armadura, capacete, escudo e mesmo o machado de guerra eram todos feitos de bronze. Isso era um grande contraste com as roupas dos soldados Medo-Persas que eram de tecido. (Heródoto I, 152, 154; VII, 61, 62). O bronze foi o metal mais importante dentro da cultura grega (Ez 27:13 Javã é o nome hebraico para Grécia); era um metal importante para o comércio, era importante para a arte militar. Quando se pega um dicionário grego (Liddell e Scott) clássico tem-se 5 colunas dele que estão dedicadas exclusivamente para o bronze e apenas duas para o ferro e seus derivados.
A idéia de domínio nos leva ... Em 13 anos Alexandre o grande conquistou todo o império Grego 336 - 323 aC.
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06/05/98
Dn 2:33Pernas de Ferro - Interpretação v. 40. O sentido do ferro é enfatizado pela noção de Poder. Representa o império romano 168 aC - 476 dC (total de 645 anos).
O império romano durou mais de 600 anos e no seu auge foi desde a Escócia até Marrocos, desde Portugal até a região da Mesopotâmia.
Roma estabeleceu um poderio militar e administrativo, extremamente forte e eficiente. O império romano impôs a toda região do Mediterrâneo a famosa “Pax Romana”. Essa paz romana durou alguns séculos pois era uma paz imposta pelas legiões romanas cujo o material bélico era basicamente todo de ferro (espada, escudo, armadura, carros, etc). O ferro já era conhecido no mundo a muito tempo, mas com a cultura romana a siderurgia se desenvolveu amplamente e o ferro se tornou um metal comum e mais popular.
O exército romano se impunha diante de tudo o que encontrava (venciam com grande facilidade a resistência de qualquer inimigo), essas vitórias avassaladoras são conhecidas pela frase de Júlio Cezar “Veni, vidi, vici” (eu vim, vi e venci). Qualquer oposição ao poder romano era tratada com ações punitivas as mais terríveis. Exemplos: Destruição de Jerusalém no ano 70 e a repressão da segunda revolta judia no ano 136 dC.
Para compreender a profecia bíblia é necessário entender a filosofia do que é ser Roma. Pode-se ter um relance disso nas palavras de Plínio o antigo (naturalistsa romano 23- 79 dC) escreveu sobre a grandeza infinita da “pax romana” nas seguintes palavras: “O poder de Roma proporcionou a unidade de Roma. Todos devem reconhecer o serviço que ela (Roma) tem rendido a todos os homens em fancilitando-lhes as relações e em permitindo a todos de usufruir os benefícios da paz”. A. Alba, Rome et le Moyeu Âge Jusquieu 1328 (Paris, 1924), 126.
Dn 2:33 Os pés em parte de ferro e em parte de barro - Interpretação vv 41-43. Os pés ocupam a maior parte da interpretação das partes da estátua.
-Um reino dividido (e não 10 reinos divididos).
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12/05/98
Cont.
Quais as características desse reino?
1-Será um reino dividido. v 41
Em cima da idéia ferro e argila/barro está a idéia de divisão. Do quarto reino para o quinto não existe mudança de metal mas sim é acrescido um novo elemento.
2-Em parte será forte , em parte será fraco. v 42
Forte na parte do ferro e fraco na parte do barro.
Daniel está querendo falar é sobre Roma papal (Um poder que surge de Roma e é ligado a Roma, porém com características diferentes). Após a queda do império romano (476 dC) é exatamente isso que encontramos o surgimento de Roma papal. Na teologia papal, o papa é rei sobre todos os outros reinos (a parte forte da igreja católica sempre foi e sempre será a parte política [ferro]).
O braço político de Roma é representado pelo ferro.
A igreja católica só se volta para a parte religiosa quando vê que a parte política está ameaçada. Ela é herdeira direta do império romano. Ela herdou do império romano: (1) O posto papal com o título: Pontífice Máximo ou Sumo Pontífice (o mesmo título usado pelo imperador romano); (2) Sua organização hierárquica, até o nível de divisão física (segue a divisão administrativa do império romano); (3) A língua: Latim (a mesma língua do império romano); (4) Mesmo ideal: domínio do mundo/universal. Palavras de Jerônimo sobre a igreja Urbis Inclyta e Romani Imperi Caputo “O nome de Roma contém em si mesmo o significado de possessão mundial. Roma é o sinal durável de uma dupla jurisdição, religiosa e política que se estende ao universo.” (5) Religião (em essência é a religião romana, mesma apresentação de Cristo, deuses romanos substituídos por santos católicos, mesmo dia de guarda, culto ao sol com roupagem cristã. Toda religião está montada sobre uma religião pagã).
Aparece um elemento novo no quinto reino: O barro (esse poder é diferente porcausa do elemento religioso). “Argila como de oleiro”(Is 29:16; 41:25; 45:9; 64:8; Jr 18:2-6; 19:1, 10; Lm 4:2; Rm 9:21) sempre está ligado o aspecto religioso, o homem como ser criado por Deus na sua relação com Deus, relacionamento do homem com Deus.
Esse poder vem depois do quarto, ele está ligado ao quarto e aí está a sua força mas aparece o elemento barro (religião).
Para a igreja católica não existe separação entre o poder político e religioso.
O aspecto religioso adicional é o aspecto da religião verdadeira. As características desse quinto poder é o poder político e o poder religioso.
O aspecto do homem, em Daniel, está ligado à religião verdadeira (religião de Deus). Os animais esão ligados a poderes políticos/pagãos.
3-Misturar-se mediante casamentos (literalmente: misturar-se-ão mediante semente humana) v 43.
A igreja católica tentou unir o esfacelado império romano através de casamentos entre as famílias reais que eram consideradas vassalos do Papa. (segundo a teologia católica o Papa é o rei do império romano e os demais reis são seus vassalos).
Atualmente isso vem através das várias tentativas de união (mercado comum europeu, ecumenismo, etc.)
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13/05/98
Um dos grandes fatores de união é a tentativa de união religiosa (desde a idade média). A igreja dominava não somente sobre o nível religioso mas também no nível político.
Dn 2:44 - A tentativa de união se intensificaria a medida que o fim fosse chegando (ligação v 43 com 44).
O fato da pedra destruir toda a estatua demonstra uma unidade entre os reinos do homem, pois ela destrói não só os pés mas também as pernas, a cintura, o peito, a cabeça. Quando olhamos para a estátua, o reino humano que é destruído tem o rosto de Babilônia que é a história do reino humano desde a sua rebelião inicial em Gn 11.
Obs: Criação Dilúvio-Noé (Gn 6) Torre de Babel (Gn11) Abraão (Gn 12)
Vs Dn 2:34 -35 , 44-45 > Gn 11, Ap 17 -18.
A estátua está em pé sobre toda a terra mas ela não é toda a terra. A estátua representa os poderes políticos e religiosos e humanos que estão na liderança da rebelião dessa luta contra Deus.
A noção da pedra/montanha (pedra bruta não talhada na Bíblia está sempre relacionada com a verdadeira adoração e a pessoa de Deus).
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17/05/98
Rocha > Montanha
1)Pedra Bruta: Deus e o Messias
Sl 118:22; Is 28:16; Zc 3:9; At 4:11
Altar a Deus - (Êx 20:25)
Aliança com Deus - (2 tábuas de pedra: Êx 24:12)
Templo 1Rs 6:7
2) Montanha : É a imagem típica na Bíblia para o céu, para o reino de Deus e o lugar para a sua habitação.
Is 14:12-15; Ap 21:10 -
Jerusalém igual a uma altíssima montanha: Sl 48:1-3; Ez 40:2; Ap 21:10
Obs: Quando João vê a nova Jerusalém ela tem o mesmo comprimento, a mesma largura, e a mesma altura.
Em Daniel vemos a noção da pedra cortada da montanha (pedra vinda do céu, e se transforma em uma montanha e se transforma no céu/montanha). O reino de Deus se estabelece para sempre e nunca mais passará.
Daniel 7:
Deus pode usar uma pessoa em completa rebelião contra Ele para cumprir o Seu plano. (caso de Balaão)
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19/05/98
Cont.
Juízo investigativo - vindicação de Deus perante os seres não caídos. Justo És
Milênio - Vindicação de Deus diante dos seres salvos do pecado. Justo És
Pós-Milênio - Vindicação de Deus diante dos perdidos. Justo És
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26/05/98
Daniel 8:
Na folha do cap 8 acrescentar: Dn 8:1 - Quando Daniel introduz a visão ele usa a palavra “hazon”=visão do verbo “hazá”=ver.
Dn 8:13 - Visão=“hazon”
Dn 8:26 - Gabriel diz a visão das tardes e manhãs (aqui é utilizada a palavra Mar’eh [ra’ah = ver, enxergar] na primeira referência a visão; e na segunda referência é usada a palavra “hazon”).
Dn 8:27 - o que espantava daniel era a “mar’eh” (visão da tarde e manhã) e não a “hazon” (visão como um todo). O texto claramente faz distinção entre as duas expressões.
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